Sinopse: grande especialista em alta tecnologia, o autor defende neste livro que este novo milênio conhecerá a fusão entre a sensibilidade humana e a inteligência artificial. ele afirma que os humanos poderão ser praticamente imortais ao se unirem à tecnologia robótica, por meio da implantação de nanobots no sistema nervoso.
A era das máquinas espirituais
Sofístico e honesto a um só tempo.
Kurzweil, com seu otimismo sem rédeas, é capaz de empolgar leitores leigos e, assim, arregimentar soldados pros exércitos que vão trabalhar no desenvolvimento da inteligência artificial. Seu discurso é extremamente sedutor e é apreciável sua honestidade ao fazer previsões precisas e verificáveis a curto prazo, expondo-se assim corajosamente à possibilidade de errar. De fato, muitas de suas previsões feitas nesse livro já revelaram-se erradas ou parcialmente erradas, talvez porque ele tenha deixado de lado fatores desconhecidos na época em que escreveu o livro (como a descoberta de computadores subneurais, que tornam a inteligência humana e a apreensão da “realidade” ainda mais complexas)e aquele fator universal (que, como tudo que é universal, nem precisa ser enunciado): a incontingência.
Que personagem, esse autor! Ele acredita que não vai morrer! Segue, por isso, uma rígida dieta, toma dezenas de comprimidos por dia, para poder estar vivo no dia em que chegar a “singularidade”. Acredita que os homens vão poder prolongar cade vez mais a vida, e nos tornaremos cada vez mais ciborgues (ele quer ver esse mundo! essas possibilidades novas! essas novas maneiras de ver mundo! essa nova maneira de ser! E quem não quereria?). Acredita que vai poder prolongar sua vida até chegar num dia em que vamos poder simplesmente trocar de corpo, espalhar back-ups de nossas mentes em várias partes para nos garantirmos, enfim: humanos superaremos a biologia. E assim, ele vai prolongar tanto sua vida que chegará a um tempo em que será possível ressuscitar mortos com poucos elementos, como um fio de cabelo. Quer rever seu pai. Um paraíso na terra? Crê que nós estamos fazendo Deus! Sabe a brainnet de que nos fala o brasileiro Nicolelis? A sociedade vai ser um grande organismo, segundo acredita, um grande cérebro comunitário, todos acessando toda informação captado por cada um. Depois, microscópicos chips estarão em toda parte, em tudo! Tudo despertará para a consciência! Um panteísmo tecnológico! Um monismo/unitarismo tecnológico. Que visão extraordinária, não? Literária! E o visionário, que personagem trágico! Sofreu um ataque cardíaco recentemente. Um revés assustador. Mas certamente ele tenta se garantir de outras formas: o congelamento de seu corpo com toda certeza está comprado e arranjado. Um personagem do nosso tempo.
Daí fica claro que crê na inteligência artificial forte (um novo tipo de credulidade ingênua e desesperada?). Se alguém quiser saber mais, pesquise “transumanismo” no google. Kurzweil criou uma universidade só para pesquisar assuntos e tecnologias relacionados a esses temas. É inventor muito prolífico. É o criador dos teclados musicais “Kurzweil”
Resumo – A era das máquinas espirituais – Recentes – 1 – Skoob
Resenha do livro “A Mente Pós-Evolutiva: A Filosofia da Mente no Universo do Silício”, de João de Fernandes Teixeira. Petrópolis: Vozes, 2010, 159 pp. © Cien. Cogn. 2011; Vol. 16 (1): xxx-xxx.
Neste excelente livro somos levados pelo autor a repensar os vários aspectos vinculados ao chamado mundo pós-humano. Este nada mais é do que o cenário futuro (futuro?) da terra, onde fica cada vez mais difícil de perceber a linha divisória entre homem e máquina. Longe de ser uma caracterização exagerada ou uma recusa em aceitar que a fusão homem-máquina irá acontecer, o autor engendra com originalidade uma análise filosófica deste mundo futuro a partir da Filosofia da Mente.
São abordados no livro tanto temas clássicos como qualia, mente, consciência, zumbis filosóficos, psicologia, neurociência, quanto temas emergentes como os ciborgues, e a parabiose. Em relação a estes dois últimos, a tarefa do autor é a de trazer para a discussão as questões suscitadas pela crescente fusão entre homem e máquina. Terão estes novos seres sensações da mesma maneira que nós humanos temos? Serão eles conscientes? Quanto aos problemas filosóficos, terão eles o mesmo status que tem atualmente, ou deveríamos pensar novas maneiras de encará-los a partir dessa fusão? Será possível traçar uma diferença entre seres humanos e os ciborgues/andróides?
No primeiro capítulo o autor nos leva a uma reflexão acerca de uma das correntes mais fortes em psicologia, o behaviorismo radical de Skinner. Haveriam problemas com a noção Skinneriana de caixa-preta, a qual postula que o cérebro não deve ter poder causal na explicação do comportamento humano. Ele seria uma caixa preta. Toda explicação comportamental deveria ser buscada no ambiente, e toda tentativa de buscar explicações baseadas em algo interno (under the skin) implicaria em um dualismo cartesiano.
O autor vai atentar para o fato de que esta não é a única caixa preta que a psicologia de Skinner apresenta. Para ele, a noção de história de vida é uma questão central no behaviorismo. A crítica que o autor faz incide no ponto em que para ele, a “história de vida” implica em uma representação. Toda representação é algo interno, ou mental, e disto decorre haver uma falha no projeto anticartesiano de Skinner. Nas bases do behaviorismo estaria a noção de história de vida, e esta estaria comprometida com o mentalismo. Sem perceber Skinner teria introduzido um dualismo pela porta dos fundos, como escreve Teixeira.
No segundo capítulo, o autor nos apresenta uma posição original em relação a ontologia do mental, o que ele chama de fisicalismo minimalista. Para isso ele percorre várias questões relevantes acerca dos limites do fisicalismo tradicional que justificam sua defesa desta posição.
Uma das questões centrais nesse sentido é o Princípio de Heisenberg. Segundo este, seria impossível determinar com precisão a posição e a velocidade de uma partícula ao mesmo tempo. Isso, segundo o autor, nos leva a uma impossibilidade de defender posições como o materialismo eliminativista, o reducionismo, o identitarismo, e qualquer outro tipo de tentativa de estabelecer uma relação precisa entre mental e material. Haveria uma razão não apenas filosófica, mas também científica para não sermos fisicalistas no sentido tradicional de como o termo é usado. O fisicalismo seria, no limite, uma hipótese heurística bem vinda para alguns contextos específicos como o caso da neurociência.
Além disso, o autor lança luz sobre um erro comumente cometido em relação a nossa noção de físico de e material. Para ele, há uma diferença básica entre fisicalismo e materialismo. O primeiro é derivado da palavra grega Physis e diz respeito a muito mais do que o conceito de matéria. Já o materialismo diria respeito apenas às coisas possíveis de encontrarmos correlatos materiais no mundo. Não seria possível utilizar os dois termos como sinônimos. Cérebros seriam algo material, mas estados mentais não. Não seria possível determinar os correspondentes materiais dos estados mentais. No entanto, isso não implicaria um dualismo, porque eles não deixariam de fazer parte do mundo físico.
Para ilustrar essa situação o autor utiliza-se de exemplos como o dos buracos. Não podemos negar que os buracos fazem parte do mundo físico – podemos de fato cair em um deles – todavia, sua existência depende da posição de seres materiais no mundo. Não haveria buracos sem os intervalos entre coisas materiais no mundo. Os buracos, assim como as sombras e as imagens refletidas em um espelho tem o que o autor chama de ontologia parasitária. Mesmo assim, o fato de eles só existirem em relação a algo material não lhes tira o poder causal. Um buraco na pista de pouso pode causar um grave acidente.
Outro exemplo explorado pelo autor são as bordas. Estas geram um grande problema para nós. Mesmo podendo ser localizadas no espaço (são físicas), não podemos afirmar que sejam materiais. Elas, assim como o mental seriam seres virtuais. Estes por sua vez caracterizam-se por sua materialidade, mesmo sendo impalpáveis. Seres virtuais não são redutíveis à matéria, e mesmo assim tem poderes causais tanto quanto buracos e bordas.
Outro aspecto abordado pelo autor é o das relações entre psicologia e neurociência. Neste sentido, busca-se esclarecer alguns equívocos no que diz respeito a estas relações.
Um dos pontos principais é a questão da redução inter-teórica entre psicologia e neurociência, onde a primeira se reduziria à segunda. Isto se daria com o avanço nas técnicas de neuroimagem, a medida que (como quer a neurociência) mais e mais estados mentais sejam reduzidos a estados cerebrais. O problema disso é que podem haver casos em que alguns estados mentais não possuam correlatos cerebrais, sendo assim impossível sua redução. A psicologia, por ser inundada com estes termos irredutíveis, não poderia ser reduzida à neurociência, pois a tradução inter-teórica não seria possível neste caso.
Mais adiante, o autor dedica três capítulos para falar mais detalhadamente dos ciborgues. Estes seriam criaturas meio humanas meio artificiais, onde a parabiose -a mistura entre homem e máquina- estaria atuando plenamente. É feita a distinção entre andróides, ciborgues e robôs. Os primeiros seriam humanos com próteses e chips implantados em seu corpo, onde predominaria o corpo humano. Os segundos seriam os seres onde não fosse possível discernir entre carne e silício, pois ambos se encontrariam quase proporcionalmente, estaria acontecendo a parabiose (mistura de homens e máquinas). Os últimos seriam máquinas com apenas chips de silício, como podemos encontrar em montadoras de carros, ou nos laboratórios de robótica do MIT.
Nos capítulos finais do livro o autor aborda ainda os problemas da mente, da consciência e da vida e dedica algumas páginas a discutir os zumbis filosóficos de Chalmers e alguns tópicos em linguagem.
O livro como um todo é inédito neste assunto no Brasil. A visão do mundo pós-moderno a partir da filosofia da mente leva-nos a vários questionamentos e pontos importantes sobre o estatuto desta disciplina no futuro. Várias de suas questões podem receber enfim uma resposta, mas algumas permanecerão insolúveis por mais que a tecnologia avance.
“O que não me matou mudou a forma como eu levo a vida, e alterou a maneira como eu encaro o mundo. Kenneth H. Cooper”.
Ps♣ “Ser sensível não te torna frágil”.
Nota♠Como desenvolver integralmente o meu potencial humano? A minha humanidade? Servindo, aprendendo a olhar a dor do próximo, através do diálogo, atenção, olhando nos olhos, dedicando tempo para escutar reclamações e histórias.
Mas, sem esquecer de praticar a autocompaixão, ou seja, cuidar bem de mim, para poder conseguir cuidar melhor do outro.