“CONHECE-TE A TI MESMO E CONHECERÁS TODO O UNIVERSO E OS DEUSES, PORQUE SE O QUE PROCURAS NÃO ACHARES PRIMEIRO DENTRO DE TI MESMO, NÃO ACHARÁS EM LUGAR ALGUM”- FRASE DO TEMPLO DE DELFOS NA GRÉCIA.
Essa frase nos remete ao axioma hermético “O que está em cima é como está embaixo e o que está embaixo é como o que está em cima”. Aquele que entender, entenderá a frase do templo de Delfos. Na filosofia socrática do “conhece-te a ti mesmo” se tornou uma espécie de referência na busca não só do autoconhecimento, mas do conhecimento do mundo, da verdade.
Para o pensador grego, conhecer-se é o ponto de partida para uma vida equilibrada e, por consequência, mais autêntica e feliz. No entanto, nos dias atuais esta frase caiu em desuso, eis que a maioria das pessoas tem interesse em viajar, conhecer coisas e situações diferentes, mas, pouca curiosidade em viajar em si mesmo, de se perceber, ou melhor, se autoconhecer.
E com isso o vazio interior cresce e a maioria tenta preencher com distrações, mas, como já dizia John Lennon “Nenhum lugar fará de você um homem, eu estive em todos os lugares, mas só me encontrei em mim mesmo.”
Após se autoconhecer o homem poderá conhecer o diferente, aceitá-lo sem querer modificá-lo, conseguindo assim viver em paz consigo mesmo e conviver em paz com todos.
Para refletir sobre o tema escolhi um poema de Carlos Drummond de Andrade que fala sobre a inquietação do homem, sempre se aventurando em suas viagens, alargadoras de fronteira numa espécie de buscar pelo bem-estar, pela plenitude, por um sentido para a vida; por algo, enfim, que lhe acalme o espírito e lhe traga paz interior.
Assim, o ser humano viaja para outros planetas, coloniza-os e, um a um, os abandona, porque se cansa deles, porque não encontrou neles o que estava procurando (talvez até porque não soubesse, exatamente, o que estava procurando).
O homem, bicho da Terra tão pequeno
chateia-se na Terra
lugar de muita miséria e pouca diversão,
faz um foguete, uma cápsula, um módulo
toca para a Lua
desce cauteloso na Lua
pisa na Lua
planta bandeirola na Lua
experimenta a Lua
coloniza a Lua
civiliza a Lua
humaniza a Lua.
Lua humanizada: tão igual à Terra.
O homem chateia-se na Lua.
Vamos para Marte — ordena a suas máquinas.
Elas obedecem, o homem desce em Marte
pisa em Marte
experimenta
coloniza
civiliza
humaniza Marte com engenho e arte.
Marte humanizado, que lugar quadrado.
Vamos a outra parte?
Claro — diz o engenho
sofisticado e dócil.
Vamos a Vênus.
O homem põe o pé em Vênus,
vê o visto — é isto?
idem
idem
idem.
O homem funde a cuca se não for a Júpiter
proclamar justiça junto com injustiça
repetir a fossa
repetir o inquieto
repetitório.
Outros planetas restam para outras colônias.
O espaço todo vira Terra-a-terra.
O homem chega ao Sol ou dá uma volta
só para tever?
Não-vê que ele inventa
roupa insiderável de viver no Sol.
Põe o pé e:
mas que chato é o Sol, falso touro
espanhol domado.
Restam outros sistemas fora
do solar a colonizar.
Ao acabarem todos
só resta ao homem
(estará equipado?)
a dificílima dangerosíssima viagem
de si a si mesmo:
pôr o pé no chão
do seu coração
experimentar
colonizar
civilizar
humanizar
o homem
descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas
a perene, insuspeitada alegria
de con-viver.