Ataraxia

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Ataraxia

Tudo flui, nada persiste, nem permanece o mesmo.O ser não é mais o vir-a-se… de Heraclito.

A ataraxia e o nosso tempo
Estimado Leitor, pode parecer impensável para nós, homens contemporâneos, tão acostumados com o corre-corre diário, que alguma corrente de pensamento proporia um estilo de vida no qual o homem não se deixasse perturbar por nada e buscasse, sempre, o equilíbrio, tanto físico, quanto mental. Mas foi isso que fez o Epicurismo.

O Epicurismo foi uma das respostas dadas pela Filosofia ao momento histórico em que vivia a Grécia da época helenística. A primeira escola epicurista surgiu em Atenas por volta do fim do século IV a.C. Seu fundador, Epicuro, nasceu em Samos, em 341 a.C.

Os professores, sucessores de Platão na Academia e de Aristóteles no Liceu, estavam deturpando os ensinamentos de seus mestres, o que não passou despercebido por Epicuro. A novidade revolucionária do pensamento  epicurista começava pelo espaço dedicado à escola: um prédio com um jardim nos subúrbios de Atenas. Longe do barulho da cidade, o silêncio do campo se adequava melhor à mensagem do filósofo.

Segundo Epicuro, a ataraxia é um estado da alma em que nada consegue perturbá-la e diante, de todo dissabor, ela deveria ficar impassível. Chega-se à ataraxia atendendo aos desejos naturais e ignorando os supérfluos e desnecessários. O homem sábio e feliz contenta-se com o estritamente indispensável. É a estabilidade diante dos nossos infortúnios diários que garante a felicidade.

Para levarmos uma vida assim, devemos nos dedicar à Filosofia. Segundo os epicuristas, uma vida dedicada ao ato filosófico é uma vida preparada para a morte. Um dos lemas mais fortes do epicurismo é: filosofa-se para morrer. Ou seja: se levarmos uma vida que vale a pena ser vivida, a morte (símbolo-mor dos nossos infortúnios), não nos será nenhum problema.

Quando ela chegar, não nos causará nenhuma dor, pois estaremos preparados pela ela. Por outro lado, se simplesmente dermos vazão aos clamores da vida material, quando chegar a hora de abandoná-los, nos sentiremos despreparados.

Para Epicuro, o essencial para a felicidade é a nossa condição íntima. O desejo precisa ser controlado, para que a serenidade nos ajude a suportar a dor. A vida se torna agradável quando sabemos lidar com perdas, que, na visão epicurista, nunca é uma perda real e, sim, uma perda imaginária. Isto é: se perdemos algo de que gostamos e, por isso, nos entristecemos, o objeto perdido, na verdade, nunca nos pertenceu. Se, de fato, ele nos pertencesse, ficaria excluída a possibilidade de perdê-lo, pois só podemos perder aquilo que, em alguma medida, nunca foi nosso.

Um exemplo: quando o todo poderoso Alexandre Magno encontra-se com o filósofo Diógenes, oferece-se para lhe dar um presente. Educadamente, Diógenes lhe responde: não tente me dar o que já é meu, dê-me licença da frente, pois quero continuar a tomar meu banho de sol.

Sem querer ser muito pessimista, afirmo que se Alexandre tivesse oferecido seu presente a dez homens do nosso tempo, é muito provável que nove pediria os mais caros mimos que nossa mente conseguisse imaginar, pois aprendemos que é melhor sofrer com a perda de algo do que ter que se acostumar a não tê-lo.

“Mozart Lacerda Filho”

PS♣Exercitando a ataraxia, que consiste na estabilidade de ânimo diante das coisas, dos prazeres, das paixões e da própria dor. Para os pensadores cépticos, epicuristas e estoicos, significa a completa ausência de perturbações e inquietações da mente, concretizando o ideal tão caro à filosofia helênica da tranquila e serena felicidade obtida através do domínio ou da extinção de paixões, desejos e inclinações sensórias. E para refletir sobre o assunto colaciono o texto abaixo.