E ai? Final de domingo? Qual a sensação que bate para você? É um dia “deprê”?
Todos nos sabemos que domingo é um dia marcado por um certo desânimo para muitas pessoas. E no geral, a leitura que fazemos disso é que essa sensação surge porque na segunda temos que voltar ao trabalho e isso dá uma preguiça. Nessa linha, podemos pensar, mas quando trabalhamos com algo que amamos, essa sensação não irá acontecer. Sim, certamente olhar para uma segunda-feira na qual você vai para um trabalho sem sentido e sem paixão é bem diferente de uma segunda tomada por um trabalho que te faz sentir vivo.
Contudo, gostaria de abordar um outro ângulo dessa sensação que nos acomete no domingo. Um ângulo que não está tão ligado ao sofrimento da antecipação da segunda, mas sim da solidão que as pessoas podem se deparar no domingo. Se observamos a vida de grande parte das pessoas (principalmente das que moram em São Paulo) conseguimos perceber um modo de viver no “piloto automático” durante a semana. Grande parte das pessoas estarão no seguinte piloto automático:
- Acordar;
- Tomar café (se der tempo…ou vai tomando no carro);
- Passar entre uma e duas horas no trajeto de ida para o trabalho com o rádio ligado e celular conectado para ligações;
- Olhar a caixa de e-mails;
- Participar de algumas reuniões;
- Ficar na frente do computador por no mínimo 8 horas;
- Nos momentos de “folga” olhar o Whatsapp, Instagram, Facebook e todas as outras ferramentas que nos distraem e nos tiram da solidão;
- Almoçar com uma galera (sozinho quase nunca…);
- Ir para a faculdade ou algum curso (para alguns);
- Passar entre uma e duas horas no trajeto de volta para casa;
- Jantar com a televisão ligada;
- Dormir
E esse padrão se repete de segunda a sexta. No geral, no sábado pegamos nossa listinha de coisas a fazer e continuamos nesse ritmo. E então, chega o bendito domingo! E porque ele nos assusta? Pois, muitas vezes, ele é o único momento no qual temos a oportunidade de vivenciarmos certo silêncio e solidão. E, infelizmente, perdemos a capacidade para isso. Obviamente, muitas pessoas, deixam o piloto automático ligado e também enchem o domingo de atividades a serem feitas (churrascos, jogo de futebol, etc…).
Dentro desse olhar, trago a definição da “Neurose Dominical” construída por Viktor Frankl, professor de Neurologia e Psiquiatria na Faculdade de Viena e fundador da logoterapia. Nas palavras de Frankl:
“A plenitude de trabalho profissional não é idêntica à nitude de sentido da vida criadora. De quando em quando, aliás, o neurótico tenta fugir da vida pura e simples, da vida em toda a sua grandeza, refugiando-se na vida profissional. O certo é que o verdadeiro vazio e, afinal, a pobreza de sentido da sua existência, vêm a luz do dia logo que a sua laboriosidade profissional se paralisa por certo lapso de tempo: quando chega o domingo! […] E que, no domingo, em se detendo o ritmo de trabalho dos dias úteis da semana, põe-se nua a pobreza de sentido característica da vida cotidiana nas grandes cidades. E fica-se continuamente com a impressão de que o homem, ignorando por completo o sentido da vida, corre por ela com a maior velocidade possível, precisamente para não reparar que essa vida carece de objetivo. É como se tentasse, dessa maneira, fugir de si mesmo – inutilmente, é claro, porque, em chegando o domingo, detendo-se por 24 horas a afanosa corrida da semana, posta-se-lhe outra vez diante dos olhos a carência de objetivo, a falta de conteúdo e de sentido da sua existência.”
Lendo apenas esse trecho de Frankl, muitos podem achar uma visão pessimista na qual a vida é marcada por uma falta de sentido. Todavia, vale ressaltar, que o fundador da Logoterapia afirmava que há um sentido na vida –isto é, um sentido pelo qual o homem sempre esteve a buscar – e de que homem tem a liberdade de engajar-se ou não na realização desse sentido. A falta de sentido acomete aqueles que vivem no conformismo, no “piloto automático”.
Nossa cultura ocidental com foco na produtividade nos distanciou desse espaço de silêncio que muitas vezes surge no domingo. Uma outra forma de perceber isso é pela onda de movimentos sabáticos no mundo organizacional. Sabático (hebraico shabbath) é um período para parar e refletir, pensar, descansar, curtir, olhar as coisas sob outra perspectiva e dimensão. Avaliar o que sou e o que eu posso ser, criar uma nova condição para o equilíbrio mental, físico e espiritual. Revisão da alma, oxigenação. Então, o que acontece é que muitos executivos passam grande parte do tempo em suas rotinas exaustivas, com reuniões, viagens, metas, feedback, dentre outras atividades, e quando a alma já está sufocada, não tem espaço para respirar, eles resolvem fazer um sabático. Talvez, não fosse preciso, se tivessem ficado em silêncio em alguns domingos.
Essa visão me fez lembrar de alguns pontos citados por Susan Cain, autora do livro “O poder dos quietos” em sua palestra no TED (para quem tiver interesse coloquei o vídeo no final desse artigo). Susan diz que a solidão é muitas vezes um ingrediente crucial para a criatividade e para transcendência. E que só agora é que estranhamente começamos a esquecê-la. Para a autora, esse fenômeno pode ser explicado pela história cultural. Nas palavras de Susan:
“As sociedades ocidentais sempre favoreceram o homem de ação em vez do homem contemplativo. Mas nos primórdios da América, vivíamos o que os historiadores chamavam de cultura do caráter, quando ainda valorizávamos as pessoas pelo seu interior e sua retidão moral. Mas depois chegamos ao século XX e entramos numa nova cultura que historiadores chamam de cultura da personalidade. Aconteceu que evoluímos de uma economia agrícola à um mundo de grandes negócios. De repente, as pessoas mudaram de vilas pequenas para cidades. Em vez de trabalharem com pessoas que conheceram a vida toda, agora têm que provar seu valor numa multidão de estranhos. Então, compreensivelmente, qualidades como magnetismo e carisma parecem, de repente, muito importantes. E assim livros de autoajuda mudam para satisfazer essas novas necessidades e eles começam a ter nomes como “Como Ganhar Amigos e Influenciar Pessoas.” E eles têm como modelos grandes vendedores. Este é o mundo em que vivemos. É a nossa herança cultural.”
Assim, talvez o domingo nos assuste tanto porque, por meio do silêncio e da solidão, pode nos fazer entrar em contato com quem nós realmente somos. Pode fazer com que tiremos a máscara da personalidade e nos deparamos com o nosso caráter. E como Nietzsche dizia: “Todos vós, que amais o trabalho desenfreado […], o vosso labor é maldição e desejo de esquecerdes quem sois.” Assim, o domingo pode ser uma ótima oportunidade para termos um vislumbre de quem realmente somos e compararmos com a vida que vivemos durante a semana. A dissonância entre quem realmente somos e a vida que estamos vivendo é o que pode nos assustar.
E como o processo de coaching traz mais perguntas do que resposta. Fica aqui uma pergunta:
E ai você está fugindo do domingo ou de si mesmo?
Fonte:www.taynacoaching.com › single-post ›
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