Pascal Bruckner, o crítico da felicidade como obrigação

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“Não podemos dominar a felicidade, ela não pode ser o fruto das nossas decisões. Precisamos ser mais humildes. Não porque devemos louvar a fragilidade ou a humildade, mas porque as pessoas são muito infelizes quando tentam arduamente e falham. Temos uma grande quantidade de energia em nossas vidas, mas não temos o poder de ser feliz. A felicidade é mais como um momento de graça.”

PASCAL BRUCKNE

 

Ensaísta e romancista francês, nascido em 15 de dezembro de 1948, Pascal Bruckner é um escritor consagrado, com mais de 15 livros importantes publicados e traduzidos em vários países. Analista de temas de impacto no cotidiano das sociedades pós-modernas, hipermodernas ou da modernidade tardia, ele só poderia figurar na seleta lista de palestrantes do ciclo Fronteiras do Pensamento, com apoio da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Bruckner fez parte do chamado grupo dos “novos filósofos”, junto com Alain Finkielkraut, Bernard-Henri Lévy e André Glucksmann, uma turma de pensadores, “filhos de maio de 1968″, que atacou o marxismo, o estruturalismo e os totalitarismos de esquerda e de direita num tempo em que as ditas utopias revolucionárias ainda incendiavam a imaginação de estudantes e de intelectuais dispostos a mudar o mundo.

Um dos seus temas mais relevantes é o do culto à felicidade. Em A euforia perpétua, ensaio sobre o dever da felicidade (2002), ele investiu contra um dos pilares do senso comum pós-1968: o imperativo categórico, a obrigação de ser feliz, um imaginário que gera frustração e depressão. Essa perspectiva também é sustentada por outro filósofo francês, Gilles Lipovetsky, em A sociedade da decepção (2008), e pelo célebre romancista Michel Houellebecq em Extensão do domínio da luta (2002). Bruckner está em sintonia com o seu tempo e com a sua cultura. Se antes de 1968 as noções de dever e de sacrifício determinavam os comportamentos e produziam infelicidade, depois das revoltas estudantis que abalaram o mundo, impôs-se uma espécie de liberação total e de obrigação de satisfazer todos os desejos. A mídia passou a ter papel determinante na produção e consolidação dessa visão de mundo. Não ser feliz, conforme os padrões dominantes, tornou-se sinônimo de fracasso e de crise existencial.

Bruckner usa a ficção e o ensaio para pensar sobre problemas contemporâneos. Não teme fazer uma ficção ensaística. Já ganhou importantes prêmios literários franceses como o Médicis (1995) e o Renaudot (1997). O que é a felicidade? Como encontrá-la? O que fazer com ela? Pascal Bruckner indica que as pessoas têm dificuldade para definir felicidade, o que as deixa confusas em relação ao que buscar, ficam apáticas depois de conquistar alguma das supostas marcas da felicidade e desenvolvem temores de todo tipo, tornando-se frágeis por medo de perder, de não estar à altura das expectativas sociais e por comparação com outras pessoas pretensamente mais felizes. A felicidade teria passado a ser um atestado de êxito na sociedade. Não ser feliz equivaleria a não ser bem-sucedido, a ser um fracassado.

Outro tema recorrente de Pascal Bruckner é o amor. Em O Paradoxo Amoroso – Ensaio sobre as Metamorfoses da Experiência Amorosa (2011), ele sustenta que os amantes de hoje sofrem por excesso e não por falta. Quando tudo se torna possível e permitido, diariamente estimulado, a rotina e o tédio espreitam cada romance. Como renovar a experiência afetiva num universo de esgotamento das relações pela banalização dos rituais, dos limites e dos sonhos?

Michel Houellebecq fala na sexualidade como um sistema de hierarquia social. Não é incorreto sugerir que para Pascal Bruckner a felicidade é um sistema implacável de distinção social com forte influência da mídia e da indústria cultural, temas que têm sido estudados pelos pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da PUCRS nas suas investigações de estudos culturais, imaginário e espetacularização da sociedade. O professor Francisco Rüdiger, por exemplo, é autor de O amor na mídia – problemas de legitimação do romantismo tardio (2013), obra na qual aborda a procura incessante das pessoas pelo bem-estar orientado, essa era do terapêutico, do desenvolvimento pessoal, dos manuais de autoajuda e do culto ao corpo perfeito e da obrigação de realizar-se inteiramente. De maneira sutil, Pascal Bruckner relança uma velha questão: tudo na vida se tornou, como denunciava Guy Debord, mercadoria? A felicidade é um produto a ser comprado e consumido?

Fonte: fronteiras do pensamento.

Não ser feliz, conforme os padrões dominantes, tornou-se sinônimo de fracasso e de crise existencial.” – Juremir Machado da Silva

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