«Temos de deixar de lado tudo o que nos limita.» (p. 84)
Não acredites naquilo que os teus olhos te dizem. Tudo o que eles mostram é limitação. Olha com o teu conhecimento, descobre aquilo que já sabes e verás a forma de voar.» (p. 100)
«a superstição daqueles que preferiam as desculpas para o falhanço, em vez do trabalho árduo para atingir a grandeza.» (p. 117)
Fonte: Autor: Richard Bach
Editor: Lua de Papel (Junho, 2015)*
Género: Romance
Original: Jonathan Livingston Seagull (1970)
*Reedição
«- Porquê, Fernão, porquê? Porque é que é tão difícil seres como o resto do bando, Fernão?» (p. 14)
«É este o preço de ser incompreendido. Ou chamam-te diabo ou chamam-te deus.» (p. 92)
«Temos de deixar de lado tudo o que nos limita.» (p. 84)
«Somos livres para irmos onde desejamos e para sermos o que somos» (p. 85)
«As forças dos governantes e dos rituais vão, devagar, devagarinho, matar a nossa liberdade de viver como escolhemos.» (p. 136)
Amanhecia, e o novo sol pintava de ouro as ondas de um mar tranquilo. Assim começa Fernão Capelo Gaivota, de Richard Bach. Começa assim, como começa a vida. Porque o sol, juntamente com o canto do galo e algum despertador irritante, anuncia o fim da noite, igual este livro, que inspira a alma e nos faz de bússola para que possamos enfrentar o espelho e questionar quem realmente somos. Quem nós pensamos que somos.
Bach, através de Fernão Capelo Gaivota, fala desse processo de reconhecimento, do fôlego na forma de retorno a qualquer investimento que fizermos nele. Porque será nosso, próprio, digno de ensiná-lo. Digno de orgulho, nada de uma autoestima recém-polida em que podemos escorregar. Esta obra, já considerada clássica, também fala sobre as dificuldades envolvidas em romper com o estabelecido, o quanto a fé e a paixão podem ser poderosas para fazer uma mudança pessoal no seio de uma sociedade.
As grandes buscas nascem das grandes perguntas, e Fernão Capelo Gaivota não entendia por que, por exemplo, quando sobrevoava a água em altitudes inferiores à metade da envergadura de suas asas, ele podia voar mais tempo enquanto fazia menos esforço. Fernão tinha paixão por voar, rápido e elegante. Assim, essas perguntas eram para ele um estímulo para experimentar, observar e deduzir.
Enquanto isso, sua mãe lhe perguntava por que era tão difícil para ele ser como os outros. Fernão, além de não ser como os outros, queria saber, conhecer. Não me importo de ser apenas ossos e penas, mamãe.
Eu só quero saber o que posso fazer no ar e o que não posso. Mais nada. Tão simples, não? Que verdade tão despojada de ornamentos! De ser mais ou menos que o outro. Beber diretamente a felicidade do prazer que dá explorar seus próprios limites. De dar a si mesmo essa oportunidade, assim como muitas vezes a damos aos outros.
Foi em seu maior momento de crise que Fernão Capelo Gaivota recebeu sua maior inspiração. […] Não haveria mais desafios nem mais fracassos. E ele ficou ficou satisfeito em parar de pensar e voar na escuridão, em direção às luzes da praia. E enquanto voava e se resignava, Fernão Capelo Gaivota percebeu que naquela escuridão – sozinho, em silêncio, apagado no eco dos outros -, ele havia conseguido ir além de qualquer gaivota: voar na escuridão.
Muitas das soluções que encontramos aparecem por insight. Diríamos até de forma repentina. Elas aparecem depois de um tempo de reflexão em que vivemos com a sensação de estarmos presos. E quando isso ocorre, tudo parece tão óbvio para nós que pensamos que o tempo proveitoso foi realmente aquele instante, e não o momento anterior, quando na verdade não é assim. Precisamos percorrer muitos caminhos errados e aprender com eles, para finalmente escolher o caminho certo.
Depois desse “perceber”, tudo parece se encaixar. Ele percebeu que ao mover uma única pena do extremo de sua asa uma fração de centímetro, causava uma curva suave e extensa a uma velocidade tremenda. Antes que ele tivesse aprendido, no entanto, viu que quando movia mais de uma pena a essa velocidade, ele girava como uma bala de rifle… e assim Fernão foi a primeira gaivota a realizar acrobacias aéreas.
Uma mulher me disse há uns anos que havia optado por uma determinada vaga de médica-residente não porque era o melhor centro, mas porque era o lugar onde achava que poderia contribuir mais. É tão raro escolhermos isso, não? Nós nos encantamos pela opção com a qual podemos enriquecer, e não nos enriquecermos como pessoas. O que muitas vezes ignoramos quando não contemplamos essa variável é que o lugar onde podemos contribuir mais a longo prazo é também a opção que nos nutrirá mais e melhor.
Fernão Capelo Gaivota, quando faz sua descoberta, se sente muito contente por ter encontrado respostas, por ter melhorado, mas também porque imagina que poderá ensinar as outras gaivotas. No entanto, o acolhimento que Fernão recebe não é bom; as mudanças são como o insight, muitas delas requerem um tempo de resistência.
“Quem é mais responsável que uma gaivota que encontra e persegue um significado, um fim mais alto para a vida?”-Fernão Capelo Gaivota. Richard Bach-
Uma etapa terminou, chegou a hora de começar outra
O céu aguarda aquele que supera as dificuldades e até resiste com ânimo à incompreensão dos outros. Mas não o céu religioso, e sim o céu que nasce daquele olhar em frente ao espelho. Do reconhecimento e a segurança que dá coerência entre aqueles que queríamos ser e que aspiramos ser. Isso, independentemente de ter conseguido.
Este exercício de honestidade é o que recompensa o fim da paixão exibida e é quando estamos preparados para uma nova revolução. Porque a vida, assim como Fernão, é dinâmica. Porque todo processo nos completa e nos deixa incompletos ao mesmo tempo, e é a capacidade de nos movermos nessa contradição que afasta a sensação de vazio que se origina no sentimento de vagar sem rumo.
E nisso, a memória finalmente nos ajuda. Nas palavras de Fernão Capelo Gaivota: “A Terra tinha sido um lugar onde havia aprendido muito, é claro, mas os detalhes já eram nebulosos; recordava de algo sobre a luta por comida e de ter sido um exilado”. O importante, o mais importante, é que Fernão nunca foi um exilado de si mesmo, de seu próprio coração.
“Quase todos nós percorremos um longo caminho. Fomos de um mundo para o outro, que era praticamente igual ao primeiro, esquecendo logo de onde viéramos, não nos preocupando para onde íamos, vivendo o momento presente. Tem alguma ideia de por quantas vidas tivemos que passar até chegarmos a ter a primeira intuição de que há na vida algo mais do que comer, ou lutar, ou ter uma posição importante dentro do bando? Mil vidas, Fernão, dez mil! E depois mais cem vidas até começarmos a aprender que há uma coisa chamada perfeição, e ainda outras cem para nos convencermos de que o nosso objetivo na vida é encontrar essa perfeição e levá-la ao extremo.”
“Escolheremos o nosso próximo mundo através daquilo que aprendermos neste. Não aprender nada significa que o próximo mundo será igual a este, com as mesmas limitações e pesos de chumbo a vencer.”
“Você tem menos medo de aprender do que qualquer outra gaivota que conheci em dez mil anos.”“Ao expulsarem-na, as outras gaivotas só fizeram mal a si próprias, e um dia vão sabê-lo, e um dia verão o que você vê.”
“Era-lhes mais fácil praticar altas execuções do que compreender a razão que estava por detrás delas.” “Temos de pôr de parte tudo o que nos limita.”
“Quebrem as correntes dos seus pensamentos e quebrarão as correntes do corpo.”“Falou de coisas muito simples – que as gaivotas têm o direito de voar, que a liberdade é própria de sua natureza, que todo aquele que se oponha a essa liberdade deve ser posto de parte, quer a oposição seja motivada por ritual, superstição ou limitação sob qualquer forma.”
“‘O preço de ser incompreendido’, pensou. ‘Ser classificado de diabo ou de deus.’” “– Por que será – interrogou-se Fernão – que a coisa mais difícil do mundo é convencer a um pássaro de que é livre e de que pode prová-lo a si mesmo se se dedicar a treinar um pouco?”
“Não creia no que os seus olhos lhe dizem. Tudo o que mostram é limitação. Olhe com o entendimento…”
Trechos do livro “Fernão Capelo Gaivota”, de Richard Bach
Fonte indicada: Fragmentos
«- Não percebo como é que consegues amar uma multidão de pássaros que acabou de te tentar matar.
Oh, Francisco, não é isso que se ama! É claro que não se ama o ódio e a maldade. É preciso praticar para ver a verdadeira gaivota, o que há de bom em cada uma delas, e para as ajudar a ver isso nelas próprias. É a isso que eu chamo amor.» (p. 99)
A imaginação é uma alma antiga.» (p. 135)