Ostra Feliz Não Faz Pérola

rubens alves

OSTRA FELIZ NÃO FAZ PÉROLA
ostra
“Ostras são moluscos, animais sem esqueletos, macias, que são as delícias dos gastrônomos. Podem ser comidas cruas, de pingos de limão, com arroz, paellas, sopas. Sem defesas – são animais mansos – seriam uma presa fácil dos predadores.
 
Para que isso não acontecesse a sua sabedoria as ensinou a fazer casas, conchas duras, dentro das quais vivem.
 
Pois havia num fundo de mar uma colônia de ostras, muitas ostras. Eram ostras felizes. Sabia-se que eram ostras felizes porque de dentro de suas conchas, saía uma delicada melodia, música aquática, como se fosse um canto gregoriano, todas cantando a mesma música. Com uma exceção: de uma ostra solitária que fazia um solo solitário… Diferente da alegre música aquática, ela cantava um canto muito triste… As ostras felizes riam dela e diziam: “Ela não sai da sua depressão…” Não era depressão. Era dor. Pois um grão de areia havia entrado dentro da sua carne e doía, doía, doía. E ela não tinha jeito de se livrar dele, do grão de areia. Mas era possível livrar-se da dor.
 
O seu corpo sabia que, para se livrar da dor que o grão de areia lhe provocava, em virtude de sua aspereza, arestas e pontas, bastava envolvê-lo com uma substância lisa, brilhante e redonda. 
 
Assim, enquanto cantava o seu canto triste, o seu corpo fazia o seu trabalho – por causa da dor que o grão de areia lhe causava.
 
Um dia passou por ali um pescador com seu barco. Lançou a sua rede e toda a colônia de ostras, inclusive a sofredora, foi pescada. O pescador se alegrou, levou-a para sua casa e sua mulher fez uma deliciosa sopa de ostras. Deliciando-se com as ostras, de repente seus dentes bateram num objeto duro que estava dentro da ostra. Ele tomou-a em suas mãos e deu uma gargalhada de felicidade; era uma pérola, uma linda pérola. Apenas a ostra sofredora fizera uma pérola. Ele tomou a pérola e deu-a de presente para a sua esposa. Ela ficou muito feliz…” Rubens Alves
 
PS♥  Isso vale para as ostras e vale para nós, seres humanos. Que possamos sempre produzir pérolas durante os diversos caminhos da vida. Afinal, todos nós somos ostras que a vida precisa, de vez em quando, invadir para que possamos nos tornar pérolas. Caso contrário, morreremos apenas como algo duro por fora e mole por dentro.
Os processos de crise nada mais é que uma oportunidade de crescimento. É no momento mais difícil que é nos oportunizado o possível caminho para o aprendizado de nos reinventar e tentar novos caminhos para obtermos resultados diferentes, de usarmos forças desconhecidas, de destravar a porta de nosso potencial não realizado, como diz o dito chinês. “Crise, perigo ou oportunidade?
Igualmente, a felicidade é um dom que deve ser simplesmente gozado. Ela se basta. As pessoas que se imaginam felizes simplesmente se dedicam a gozar a vida. E fazem bem, mas em geral elas não criam, não produzem pérolas.
São os que sofrem que produzem a beleza, para poder parar de sofrer, como  dizia Rubem Alves.O ato criador, seja na ciência ou arte, surge sempre de uma dor. Não é preciso que seja uma dor doída. Por vezes, a dor aparece como aquela coceira que tem o nome de curiosidade“.